Pensado e 'escrivinhado' em 1h30' \o/
O som do velho telefone ecoa pela sala e parece revirar alguams folhas de jornal. Uma brisa cinza entra pela fresta da janela quebrada, empurrada para dentro pela chuva fria que cai lá fora. O telefone insiste, rouco. Ninguem reage ao som. A campainha insiste, cansada. Cinco, seis, sete vezes.
Do outro lado do escritório a chave gira em falso no trinco, a maçaneta é sacodida gentilmente e logo depois a porta toda vibra mais drasticamente. O solitário telefone toca.
-Merda.
Do lado de fora, diante da porta, alguem reclama socando a madeira. A palavra indecente derruba o cigarro dos lábios do homem, o soco deixa cair o jornal que carregava sob o braço.
-Mas que caralhos!
E o telefone, indiferente aos infortunios, toca.
O homem se abaixa com dificuldade, uma das mãos buscando o cigarro a outra o jornal enquanto o bolso do casaco derruba uma garrafa de bebida já vazia que bate ruidosamente contra o chão de madeira. Ele se levanta com um vigor recem encontrado pela ira. O telefone soa e a mão esquerda aperta o jornal com força, a direira devolve o cigarro nos lábio para uma longa traga enquanto a frustração corre pelos nervos para um golpe certeiro. Com um chuta o cantil de metal é arremessado violentamente para o outro lado do corredor. O impeto se apaga imediatamente conforme a trajetoria anuncia o desastre, em uma porta próxima o vidro se parte sonoramente e um salseiro de cacos pinga no chão.
-Que merda...
A voz agora é baixa enquanto o ombro se apoia na porta e as mãos vão ao trinco rapidamente, a urgência aumenta conforme a porta do outro lado do corredor começa a se abrir. Força. O ferrolho finalmente cede, dois passos são necessários para que ele possa recobrar o equilibrio ao entrar, mas não importa. O corredor havia fica do para tras. O jornal é jogado sobre uma poltrona de couro seco, escondendo um corte por onde escapa algum estofo. A mão direita tira o cigarro da boca, a esquerda busca o telefone:
-Alo!
Do outro lado o silêncio que parece eterno na verdade é muito breve, seguido do som continuo de linha. Não havia mais ninguem a espera.
O receptor volta para o gancho lentamente, toda a impaciência se dissipa, de vagar a mão vai ao bolso agora vazio...
O sopro de ar quebrado reaviva a braza na ponta do cigarro, o som de madeira se aproxima quando alguem bate, inutilmente, na porta que foi deixada escancarada:
-Isso é seu?
Pergunta a mulher na porta, levemente encostada no batente. Apoiado sobre sapatos elegantes de salto alto e fino, o preto da camurça contrastanto com a pele clara exposta a partir do dorso do pé, os tornozelos se cruzam logo antes do contorno da panturrilha se anunciar elegantemente na posição em que estava. A pele sem marcas desenha coxas firmes de formosura inegavelmente feminina. A cima disso o casaco vermelho nublava as graças, que certamente eram muitas, o cinto ao redor da cintura fina deixa uma pista das curvas sinuosas que se ocultavam e a seguir apenas botões e um tecido vermelho que a envolvia até o pescoço. Os cabelos louros eram volumosos e lhe caiam aos ombros em cachos soltos, olhos azuis emoldurados por silios longos e sombrancelhas finas em um rosto delicado e sóbrio, angelical ainda assim. Um anjo perigoso de sorriso vermelho e lábios volumosos que segurava em uma das mãos um cantil amassado de whisky, e repetia:
-Isso é seu?